À nossa mesa

Há festa na minha terra

Sou filha da terra.

Orgulhosa das suas gentes, história e tradições.

E quando há festa na minha terra, há sempre lugar para mais um.

Hoje não foi exceção.

Não é só pelo gosto de receber, de ter a porta aberta e a mesa farta.

É pelo orgulho de poder mostrar um pouco do Ribatejo, é pelo prazer de contar um pouco do que é a festa brava!

Sim sou aficionada.

Quis a vontade, o destino ou a dita vocação que a minha formação académica fosse na Saúde, enraizada na ciência e tecnologia. Licenciei-me na capital rodeada de colegas de todas as zonas do país. Vim trabalhar para o hospital da minha cidade, mas já na altura contavam-se pelos dedos os profissionais que eram de cá ou que pelo menos eram de perto.

Sempre que havia festa na minha terra, havia (e há) sempre lugar para mais um.

“Vou à festa, mas não gosto de toiros!”

“Vais levar-me para onde passam os bichos!?”

“Gosto dos cavalos e dos cavaleiros, mas não gosto que espetem os toiros!”

“Mas o que é um burladero?”

Hoje não foi exceção.

Havia mais lugares na mesa, havia curiosidade, havia vontade de ver por dentro e saber mais, havia principalmente respeito.

Cumpriu-se o objetivo.

As portas da tertúlia abriram-se e as conversas rechearam-se de termos tauromáquicos que se fizeram acompanhar de gargalhadas monumentais.

Na mesa as faenas foram as do costume, demos uns valentes capotasos nas entradas, bandarilhamos com maestria a salada de bacalhau, pegamos de caras com raça o coelho à caçador, tudo rematado com pinga a rigor e no fim ainda recolhemos bem encabrestrados os doces!

Saímos todos de barriga cheia.

Dei-lhes a conhecer esta minha paixão, o orgulho em ser filha de quem sou e de ser desta minha terra.

Eles viram os toiros nas ruas, entraram em burladeros, perceberam a função dos cabrestros, a profissão dos campinos e adicionaram manadas de palavras novas ao vocabulário. Mas talvez tenham sido aqueles olhos comovidos a mostrar-lhes melhor o que é ser aficionado…

Alguns continuarão a não gostar, a não compreender a emoção. Outros mostraram curiosidade de mais e terão vontade de voltar para repetir a experiência. Mas certamente que todos ganharam mais respeito por esta tradição.

Sim, sou aficionada e tal como Vila Franca, não sou melhor nem pior, sou apenas diferente.

E esta diferença, como qualquer outra, num país livre e democrático como é o nosso, é para ser respeitada.

Portanto, enquanto houver festa na minha terra, serei orgulhosamente, aficionada.

V.

P.s: Obrigada S. e B. pelas fotos e pelo carinho.

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