A mãe

Só peço para que todas as crianças no mundo possam crescer com um bocadinho do que consigo dar aos meus filhos

Vi imagens de um prédio inteiro a ruir. Li um twitte de uma mãe que dormiu com os filhos na mesma cama com medo de morrerem separados. Assisto a manifestações de apoio na internet, de súplica até, para que chegue ao fim esta luta inglória em que a única coisa que se “ganha” são mortes e mais mortes, de inocentes, de crianças, de famílias inteiras, de pessoas que não tinham de morrer, não já e não, muito menos, assim.

A política e a religião assustam-me à escala do que lhes conheço e o extremismo bloqueia-me a necessidade de querer saber mais, porque para mim basta. Basta saber que vai para lá do limite do razoável, do aceitável e sobretudo do real e atual sentido de liberdade para já não valer a pena conhecer.

Aqui, sentada no conforto do meu lar, com os meus filhos à perna a brincarem com jogos de madeira, carros telecomandados, bolas ou bonecas, posso encostar a cabeça ao sofá e adormecer tranquila sabendo que o pior que pode acontecer nesses minutos que adormeça é ficar com a sala virada do avesso.

Aqui, sentada no conforto do meu lar, posso mudar de canal quando as notícias não são boas e pôr os meus filhos a ver desenhos animados, um filme ou num canal de música em que a dança seja a única explosão a que assistam.

No conforto da minha casa sento os meus filhos à mesa e faço-lhes uma refeição saudável e completa, tenho tempo para a sobremesa e para as mil videochamadas que matam saudades dos avós.

No conforto da minha casa deito os meus filhos depois de beijos e abraços, que nunca chegam, conto histórias e canto músicas, dou só mais um beijinho e deito-me tranquila porque amanhã um deles me vai despertar com aquele “mãaaaaaeeee” que acorda o prédio inteiro.

No conforto da minha casa não ouço bombas, nem tiros nem gritos, não cheiro fumo, sangue, dor e desespero. Não durmo com medo de não acordar, não acordo com medo de morrer, ou ver os meus morrer.

No conforto da minha casa rezo, peço, em silêncio, todos os dias, para que o mundo mude, a guerra acabe e todas as crianças possam crescer com um bocadinho, nem que seja só mesmo um bocadinho, do amor, do carinho, da proteção e da liberdade que eu, aqui, no conforto da minha casa, consigo dar aos meus filhos.

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C.

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