A nossa vida

Menos Inquietação

Este ano não deixei passar o 25 de abril em branco.

Por norma, aproveito esse mês para repensar a tal da liberdade, para desfolhar um ou outro cravo para lhe conhecer a raiz por entre tanto floreado e volto a tentar ouvir o que não dizem as suas canções.

Este ano fui mais longe e acabei por escrever-vos aqui o que penso.

Curiosamente, ou não, foi dos posts menos lidos.

Pensei que talvez não tivesse o título mais sonante, que o parágrafo que escolhi não fosse o melhor para captar a atenção dos nossos seguidores nas redes sociais ou então, que a imagem escolhida não era apelativa o suficiente.

Pensei nisso tudo, mas ainda assim fiquei triste.

Triste por nem espreitarem.

Triste por nem se importarem.

Triste por nem se inquietarem.

Podia escrever que o país hoje ficou mais triste, mais pobre ou mais cinzento, mas não.

Escrevo que ficou irremediavelmente menos inquieto.

Escrevi nesse post sobre abril e sobre a liberdade, que pouco ou nada sei da revolução, ditadura ou opressão porque não estava lá para erguer o punho, porque nunca vivi sem ser democraticamente livre ou porque nunca tive de mãos e pés atados e dentes cerrados.

Mas de inquietação sei.

Sei, falo e escrevo o que for preciso para que ao menos durante estes minutos em que lêem estas palavras, se deixem inquietar.

Não que se inquietem sobre como viveu José Mário Branco, intensa e interventivamente, mas que se inspirem um pouco na sua forma de estar e ver o mundo e principalmente o nosso país.

Que percebam que em todas as nossas profissões temos o dever de ter voz, mas não mais uma voz de ruído de fundo que apenas balbucia ladainhas de escárnio e mal dizer.

Temos o dever de ter uma voz de mudança, de progresso, de debate de ideias e não de ideologias.

Uma voz política, apartidária, pessoal mas que vise o conjunto e não vice-versa.

Uma voz associativista, proativa e às vezes disruptiva se necessário for.

Mas uma voz.

Se estas palavras vos inquietam por pouco que seja percam mais uns minutos e leiam um bocadinho desta deliciosa entrevista .

Nunca seremos capazes de ouvir essa mesma canção, e ainda que continuemos a ter todo o direito a ter uma voz, poucos serão os que saberão usá-la por falta de traquejo de como e onde deverão fazer-se ouvir.

Ohhh Inquietação, Inquietação

E a cada dia, haverá menos.

V.

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